Queria eu poder não ser eu. Poder ser quem eu quisesse ser. Pelo menos por um momento, até perceber que eu não iria querer ser ninguém, a não ser eu mesma. E entender que eu posso ser quem eu quiser, mas assim, não seria mais EU.
Não seria a menina que chora, mesmo não tendo certeza do porquê, nem a menina que sorri, sabendo exatamente que naquele momento o sorriso é melhor que as lágrimas que tanto tenta esconder. Que sorri, porque sorrir é o melhor remédio. Que sorri, porque é feliz. Que sorri, pelo simples ato natural de sorrir, que não lhe é esforço algum e ainda lhe faz muito bem, pois faz outras pessoas sorrirem também.
Não seria a menina que corre sem saber pra onde, apenas focada no objetivo de chegar. Que luta sabendo de toda a trajetória e obstáculos, mas não tento ideia alguma do prêmio desta batalha. Mas que sonha como uma criança e sabe que a luta e a corrida um dia darão vida ao sonho.
Não seria a menina que não é mais só uma menina, mas a garota com o passar do tempo se tornou uma mulher em aparência e atitudes, mas permaneceu criança em loucuras e sentimentos. Que fez das palavras sua maior arma e da distância uma artimanha da coragem.
Não seria a menina apaixonada que vê seu coração partir em pedaços, tantas vezes, e ser reconstruído sempre com uma pecinha do quebra-cabeça a menos, mas que mesmo assim, não desiste de tentar, pois essa menina ainda acredita no amor, mesmo que não confie mais em contos de fadas.
Não seria a menina que dá bons conselhos, que escuta atentamente, que de alguma forma, tenta ajudar quem lhe é importante. Mas que não consegue seguir seus próprios conselhos e ainda não é capaz de enfrentar seus próprios temores.
Não seria a menina que se importa com o olhar crítico de cada um, mas mostra uma indiferença banal que mascara toda a insegurança. Que se fecha de um modo, onde poucos realmente conseguem ter acesso. Mas é tão acessível exteriormente que passam despercebidas as trancas que a escondem.
Enfim, essa não seria eu, seria apenas alguém que um dia desejou ser outra pessoa que nunca poderia ser, mas de tanto querer deu vida a imagem que não passa de uma utopia, escrita pelas mãos de um autor desconhecido, cuja personagem nunca saiá do livro.